Inteligência Artificial e Criatividade: adversários ou aliados?

Muitos criativos estão preocupados que a IA possaroubar seus empregos. Será? Para a Economia Criativa, especificamente, tais ferramentas tecnológicas podem ser bastante úteis e aprender a usá-las a nosso favor é urgente

Culturalmente, estamos acostumados a ver a Inteligência Artificial como potencial inimiga. Desde os anos 80, quando o conceito começou a ser discutido publicamente, inúmeros filmes hollywoodianos retrataram guerras apocalípticas entre máquinas e seres humanos. A ideia de que robôs se rebelarão para conquistar o mundo está, de certa maneira, incutida no nosso imaginário.

Com os muitos avanços das tecnologias nesse sentido nos últimos anos, a Inteligência Artificial e os seus impactos no mercado de trabalho passaram a ser um tema bastante debatido, discutido e difundido mundo afora. É fato que a automação digital irá substituir alguns trabalhos que envolvem tarefas repetitivas e previsíveis e isso já está acontecendo. Porém, definitivamente, a guerra entre máquinas e humanos não parece ser o roteiro que está sendo escrito na vida real. É possível que daqui a algumas gerações isso mude? Talvez. Mas, hoje, a realidade é que a Inteligência Artificial veio para agregar e entrou em nossas vidas para colaborar, assim como muitas outras ferramentas de tecnologia e a inovação já estão fazendo há algum tempo.

O primeiro ponto crucial a ser pensado é o fato de que, atualmente, qualquer plataforma de IA disponível no mundo depende de nós seres humanos para existir e funcionar. Sem pessoas para as alimentarem, nenhuma tecnologia irá operar corretamente e, consequentemente, não terá capacidade para se voltar contra a humanidade. Outro ponto importante que muitas vezes não consideramos ou nem mesmo percebemos é: a IA já faz parte das nossas vidas há algum tempo e nos acostumamos a usá-la para nos ajudar em muitas tarefas sem sequer percebermos que estamos fazendo uso desse tipo de tecnologia.

Desde a hora em que acordamos, até a hora em que vamos dormir, fazemos uso de uma variedade de inteligências artificiais com características distintas que dependem do algoritmo empregado. Quem nunca usou o Google Assistente para uma pesquisa rápida, a Alexa para escolher músicas ou o reconhecimento facial para proteger o app do banco? Todas essas tecnologias possuem elementos da IA e nenhuma delas ameaçou extinguir a humanidade.

No mercado de trabalho, o impacto de tecnologias como o ChatGPT – o chat bot que usa IA para, a partir de perguntas do usuário, dar respostas que ampliam os limites da pergunta feita simulando um diálogo natural – é objeto de muitos debates, teceios e previsões. Tanto que, recentemente, a notícia de que seu criador, Sam Altman, havia pedido regulamentação para evitar IA “assustadora” se espalhou quase como uma profecia.

Porém, em turnê para Europa para debater com os líderes mundiais tais regulamentações, Altman falou sobre a importância de obter o equilíbrio certo entre a proteção com essa tecnologia e deixá-la florescer. O criador do ChatGPT vê a IA como uma ferramenta para criar coisas novas, liberar potencial e mudar a forma como devemos pensar sobre problemas específicos. Apesar de achar a regulamentação importante, ele não acredita que a IA represente um risco para o trabalho humano.

“Essa ideia de que a inteligência artificial vai progredir a um ponto em que os humanos não têm nenhum trabalho a fazer ou nenhum propósito nunca ressoou em mim. Haverá algumas pessoas que optarão por não trabalhar, e acho isso ótimo. Acho que deve ser uma escolha válida e há muitas outras maneiras de encontrar sentido na vida. Mas nunca vi evidências convincentes de que o que fazemos com ferramentas melhores é trabalhar menos”, afirmou.

Para a Economia Criativa, especificamente, tais ferramentas podem ser bastante úteis. Entre as tarefas que exigem habilidades e capacidades que as máquinas não possuem, e que consequentemente não podem ser automatizadas, está a criatividade. Muitos criativos estão equivocadamente preocupados que a IA vai roubar seus empregos. Não vai. Porém, alguém que saiba utilizar tais ferramentas de uma maneira apropriada o fará.
Robôs e tecnologias artificiais não têm a cognição, emoções e relacionamentos humanos necessários para produzir obras literárias de qualidade, por exemplo. Uma IA não experimenta dor física ou emocional, não sabe o que é felicidade, nem conhece os altos e baixos da vida. O ChatGPT pode produzir textos, o Midjourney cria imagens com perfeição. Nenhum deles, porém, o faz sem que humanos os operem. Tais ferramentas são úteis no auxílio dos mais diversos profissionais da Economia Criativa, porém, não são capazes de substituir a criatividade humana.

Resumindo, a questão principal para os profissionais da criatividade não é regular as tecnologias de IA para proteger as formas como costumavam trabalhar. O que devemos nos perguntar é “Como podemos usar todas essas tecnologias de IA para criar campos e possibilidades de trabalhos totalmente novos, agreguem ainda mais valor ao nosso trabalho?”. Os profissionais que fizerem uso de IA para criar no lugar deles terão resultados medíocres e parecidos no mundo todo. Já os profissionais que usarem a IA como ferramenta para lapidar suas próprias criações, de maneira diferenciada, se tornarão ainda mais relevantes no mercado e serão mais valorizados ao alcançarem resultados muito superiores. Há uma diferença abismal entre as duas maneiras de se usar a IA.

O poder da criatividade humana é insubstituível. Além de não morrer em uma possível guerra com a Inteligência Artificial, a tendência é que ela se valorizará por ser exatamente uma capacidade que o “inimigo” não tem, e se tornará o skill do futuro em meio aos avanços tecnológicos. A ideia é que a Inteligência Artificial seja usada para libertar as mentes brilhantes de trabalho de rotina, repetitivo e braçal, que ocupa o tempo de quem deveria estar pensando em grandes ideias. Aprender a nos relacionarmos com a tecnologia para a usarmos a nosso favor, portanto, é fundamental.

As tecnologias de IA vieram exatamente para reforçar nossa humanidade e nos lembrar de quais são nossos diferenciais e capacidades únicas. A criatividade é e sempre será a protagonista na história da humanidade. Não podemos perder tempo com medos e receios. É preciso, sim, estarmos sempre atentos às mudanças e aos avanços tecnológicos. Ma é urgente que nos adaptemos e aprendamos a usar novas capacidades e ferramentas e tirar o melhor dela. O objetivo é, portanto, usar a Inteligência Artificial para capacitar e aprimorar a criatividade humana, e nunca substituí-la.

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