Bloqueios criativos são inerentes aos altos e baixos de processos de criação em geral e podem acontecer com qualquer pessoa, sem aviso prévio
Criado pelo austríaco Edmund Bergler na década de 40, o termo bloqueio criativo, que a princípio foi nomeado como “inibição neurótica da produtividade”, é usado até hoje para definir as perdas temporárias de inspiração que resultam na ausência de novas ideias e dificuldade de concepção de soluções originais. Durante aproximadamente 20 anos, o psiquiatra estudou escritores que sofriam com o sumiço repentino de suas capacidades criativas e concluiu que o problema não era gerado por falta de motivações externas, mas sim por uma carência de motivações pessoais. Baseado em suas descobertas, Bengler passou a associar o bloqueio a problemas psicológicos como depressão, ansiedade, infelicidade, exagero da autocrítica e falta de motivação interna.
Anos depois, entre as décadas de 70 e 80, os pesquisadores da Universidade de Yale Jerome Singer e Michael Barrios reuniram esforços para estudar o problema e tentar se aprofundar nas questões que envolvem o bloqueio criativo e suas causas. Um novo experimento feito com grupos de escritores que estavam enfrentando dificuldades para criar submeteu os pacientes a exercícios dirigidos à formação de imagens mentais. Em uma sala escura e silenciosa, os participantes eram induzidos a criar mentalmente representações visuais a partir de diferentes estímulos. Posteriormente, eles teriam que descrever algumas de suas ‘visões’, que poderiam ser parecidas com sonhos, desconexas e sem sentido lógico.
Após duas semanas, a prática aumentou a criatividade e a autoconfiança dos indivíduos no próprio poder de criação, levando os psicólogos a concluírem que não apenas Berger não estava completamente certo ao afirmar que o bloqueio criativo estava relacionado somente a problemas emocionais, como também que o estímulo do processo criativo em si poderia ser um alívio a estresses psicológicos. O envolvimento em qualquer atividade criativa diferente daquela que supostamente causava a limitação aos escritores, funcionou muito bem como forma de desbloqueio.
Mas afinal, o que causa o bloqueio criativo?
Sabe-se que os bloqueios são inerentes aos altos e baixos de quaisquer processos de criação. Eles são muito mais comuns do que se imagina e podem surgir sem aviso prévio, atravancando a imaginação de qualquer pessoa, a qualquer momento. Para entender melhor o problema, é necessário saber a origem da criatividade.
No final dos anos 1990, ao acompanhar a atividade cerebral de voluntários acordados e saudáveis, o neurocientista inglês Stephen Kosslyn descobriu que a imaginação ativa as mesmas regiões do cérebro que recebem informações dos sentidos. Como sabemos que os sentidos dependem de experiência para se firmarem no cérebro, podemos concluir que nossas experiências são fundamentais para o desenvolvimento da criatividade. Quanto mais experiências sensoriais, mais elementos teremos para combinar de maneiras únicas e originais.
Consequentemente, podemos concluir que os bloqueios criativos podem ser relacionados às nossas experiências emocionais, psicológicas e físicas, sendo resultado de uma série de fatores que vão desde a busca incessante por perfeição, passando por dificuldades como a perda de ânimo, diminuição da ambição, estresse, medo, excesso de preocupações até as noites mal dormidas, problemas de saúde e má alimentação.
Transpondo os bloqueios
O neurocientista Henrique Del Nero, da USP, concorda que a criatividade de cada indivíduo é proporcional ao seu repertório de experiências, e, portanto, a formação de um rico banco de dados aumenta significativamente as possibilidades de ‘rearrumações’ significativas de informações. Por isso, muitos especialistas indicam que as pessoas alimentem seu acervo mental não apenas adquirindo conhecimento, mas também realizando atividades lúdicas e artísticas que despertem a imaginação. Testar diferentes experiências, meios e perspectivas e aprender coisas novas são ótimas maneiras de nos livrarmos de bloqueios à criatividade.
Além de pequenos exercícios diários de estímulo à imaginação, os avanços da neurociência e psicologia criaram ferramentas capazes de desbloquear a criatividade, gerando mais saúde ao nosso cérebro. Além de tratamentos como o Brainspotting (que identifica desequilíbrios no sistema cerebral) e EMDR (processo de ativação das áreas cerebrais através da estimulação sensorial bilateral), que podem ser aplicadas por psicólogos; há também exercícios como Design Thinking e outras técnicas de desbloqueio criativo que são aplicadas pelo método de ensino de todos os cursos da Panamericana, para ajudar nossos alunos a exercitarem a criatividade, principal foco da escola.
Os irmãos Tom e David Kelley, autores do livro “Creative Confidence”, defendem a ideia que a criatividade é uma habilidade que precisa ser treinada para ser desenvolvida e consequentemente todos nós temos a capacidade de aprender a desbloquear nossa criatividade e quebrar de paradigmas. Para transpor bloqueios é fundamental não se deixar dominar por crenças limitantes de uma suposta inabilidade criativa. É preciso deixar os pensamentos fluírem livres de julgamento, sem pretensões ou medo de rejeição, frear a racionalização sistemática das coisas, e exercitar a criatividade da mesma forma que exercitamos os músculos do nosso corpo.