A movimentação gerada pela entrada de duas gigantes do varejo mundial no mercado
brasileiro pode ser uma excelente oportunidade para os profissionais e aspirantes a
profissionais de moda no país
A H&M, marca sueca de varejo de moda, anunciou sua chegada ao Brasil agora no meio de
julho, mesmo mês em que a Shein, varejista chinesa, começou a produzir peças de vestuário
no país. Em parceria com o Grupo Dorben, que opera marcas como Jimmy Choo, Michael Kors
e Carolina Herrera em países latinos, a rede de lojas de departamentos da Suécia prevê iniciar
suas operações por aqui em 2025, tanto com lojas físicas quanto e-commerce, aumentando
ainda mais sua expansão na América Latina. Já a plataforma de varejo de moda com sede em
Singapura, após acordo com o governo brasileiro, prevê um investimento de R$ 750 milhões
no Brasil e deve passar a produzir 85% de seu portfólio com fabricantes locais, gerando assim
até 100 mil empregos no país em três anos.
Além de concorrerem uma com a outra no setor de varejo de moda brasileiro, a Shein e a
H&M baterão de frente com grupos brasileiros como Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e
Riachuelo (GUAR3), que faturaram à altura em 2022. Para se ter uma ideia, a receita líquida da
Renner foi de R$ 13,3 bilhões no ano passado, enquanto a Riachuelo chegou a R$ 8,4 bilhõoes
e a C&A bateu a marca de R$ 6,2 bilhões.
Tanto a Renner, quando a Riachuelo, a C&A e a Shein têm superlativos que a H&M não terá
logo que chegar por aqui. A Renner têm três marcas – Renner, Camicado e YouCom – que
somam mais de 650 lojas e acumula mais de 100 anos de operação no varejo brasileiro. A
Riachuelo e a C&A também atuam no mercado brasileiro há décadas e têm centenas de lojas
espalhadas pelo país. A Shein, apesar de não ter operação física por aqui, tem política de
preços extremamente agressivos, algoritmos eficazes e um modelo de produção que permite
atender as demandas do consumidor com preços muito baixos.
No Brasil, a H&M irá enfrentar o dilema na definição de preços em tempos de recessão
econômica. Porém, sua estratégia de cadeia de suprimentos baseada em velocidade, agilidade
e prazos curtos, tem sido um fator relevante para o seu sucesso mundial, já que lhe confere
uma boa vantagem competitiva ao permitir que as coleções sejam alteradas regularmente. A
promessa da mega varejista sueca é oferecer uma moda com preço acessível e mais
sofisticada, com foco em sustentabilidade. Vale lembra que a marca é considerada a segunda
maior potência de fast-fashion mundial, perdendo apenas para a Zara, que também opera no
Brasil.
Mas afinal, quais serão os impactos da chegada da H&M e da Shein e do aumento da
concorrência no setor no Brasil? Sem sombra de dúvidas, a entrada de duas gigantes do varejo
mundial deve gerar movimentação no mercado brasileiro e chacoalhar tanto a concorrência
entre as gigantes domésticas como em pequenas marcas locais. Porém, o fato é que para os
profissionais e aspirantes a profissionais de moda tais mudanças podem ser oportunidades
bastante positivas.
A Shein, por exemplo, anunciou que passará a hospedar vendedores locais em sua plataforma,
transformando o site em um marktplace no Brasil. Tal modelo de negócio, já utilizado pelos
por sites como AliExpress, Shopee, Mercado Livre e Magalu, abre um espaço para pequenos
empreendedores do setor comercializarem seus produtos em uma plataforma com foco em
moda e vestuário, ao invés de em grandes marketplaces com focos diversificados, como é o
caso dos citados acima.
O aumento da concorrência já começou a fazer o mercado interno reagir e deve gerar
melhoras em diversos aspectos. O Mercadoo Livre, por exemplo, anunciou acordo com lojistas
do Brás, conhecido polo do setor em São Paulo, para bater de frente com a Shein. A ideia – que
é apenas o primeiro passo de uma estratégia de se aproximar dos polos de moda espalhados
pelo país – é atrair 400 empresas paulistas de moda para o site, ampliando o potencial de
vendas e de alcance delas por meio de um dos principais e-commerces da América Latina.
O Mercado Livre também anunciou, apenas nesse ano, um investimento de 19 bilhões de
reais no Brasil e a contratação de mais 5.700 pessoas (totalizando 21 mil funcionários no país).
A expansão no segmento da moda é uma tentativa de trazer maior recorrência de compra ao
site e aumentar a penetração do e-commerce no comércio brasileiro já que, atualmente cerca
de 32 milhões de usuários acessam a seção de moda na plataforma mensalmente.
Não à toa, o mercado brasileiro é visto com bons olhos por gigantes internacionais. O grande
potencial do Brasil; no setor de varejo de moda foi citado no anúncio oficial da chegada da
H&M ao Brasil. Sem sombra de dúvidas, a vinda de empresas tão fortes e impactantes ao país
é prova de que o mercado de moda aqui é promissor e demandará uma reavaliação
estratégica dos players nacionais.
Será preciso repensar preços, comunicação, posicionamento de marca, experiência do
consumidor e produtos. O resultado provavelmente será o aumento tanto dos desafios
quanto das oportunidades para o mercado de moda local. A valorização da moda brasileira, a
competitividade com preços baixos e a adaptação aos gostos do consumidor brasileiro são
pontos-chave para o sucesso das gigantes internacionais e, consequentemente, profissionais
brasileiros capacitados, familiarizados com o mercado local, serão fundamentais nesse
processo.