“Foi um período de muito estímulo criativo”, diz Mila Rodrigues sobre cursar a Panamericana

A renomada consultora de design, que já atuou junto a grandes marcas e estabeleceu parcerias com nomes importantes da construção da nossa brasilidade aplicada ao mobiliário, como Sergio Rodrigues e Bernardo Figueiredo, estudou Design de Interiores na escola

Designer de produtos por formação, Mila Rodrigues atua como consultora no mercado de design de mobiliário, com foco em desenvolvimento criativo para diferenciação de identidade da marca. Em mais de três décadas de carreira, a ex-aluna da Panamericana, onde se formou em Design de Interiores, sempre transitou por diferentes áreas do setor, trabalhando para grandes marcas e estabelecendo parcerias com nomes como Sergio Rodrigues e Bernardo Figueiredo. Como consultora de design, ajudou seus clientes a conquistarem prêmios importantes, como o IF Design Award, Idea Brasil, Salão Design e Brasil Design Award.

A paixão pelo design e pelas artes começou logo cedo. Seu pai esculpia e pintava e Mila se encantou pela ideia de trabalhar com criatividade. Arquitetura foi sua primeira opção quando pensou em fazer faculdade. “Já estava tudo pronto, eu já havia me inscrito no vestibular para prestar Arquitetura. Porém, quando uma amiga que eu não via faz tempo me contou que faria Desenho Industrial, fiquei intrigada e curiosa. Pensei: ‘que raios é isso?’. Nunca havia ouvido falar no curso. Então, o pai desta mesma amiga me deu uma aula sobre o que era Desenho Industrial e eu saí da visita convencida. Mudei todas as inscrições que já havia feito para Arquitetura e fui estudar Desenho Industrial na FAAP”, relembra.

Logo no início da faculdade, vieram as dúvidas e Mila resolveu cursar Design de Interiores na Panamericana, em paralelo ao curso da universidade: “O primeiro ano do meu curso de Desenho Industrial integrava artes plásticas, arquitetura e desenho industrial. Então, o começo foi um ano de muitas artes plásticas, compreensão do comportamento das cores, das formas de expressão e de como você poderia usar os recursos plásticos para contar sua interpretação das coisas. Nesse momento foram nascendo inseguranças. Pensei: ‘estou aqui, estudando artes plásticas que eu amo, mas não está muito dentro do que eu imaginava ser o curso de ‘Desenho Industrial’. O meu objetivo era poder a começar a trabalhar já no primeiro ano de faculdade, mas eu só comecei a criar uma expertise para isso a partir do segundo ano do curso. Por isso, decidi que estudar Design de Interiores simultaneamente era uma forma de eu experimentar um pézinho dentro de um ambiente do mercado arquitetônico, que era minha primeira opção, para de fato entender o que eu queria fazer ou não”.

Durante o segundo ano de faculdade, já estudando matérias mais próximas do Design Industrial e seguindo paralelamente o curso de Design de Interiores da Panamericana, Mila percebeu que a bagagem dos dois cursos juntos poderia ser o que ela realmente queria, mas se voltou mais para o que era mais próximo do seu sonho inicial: “Aqueles dois universos estavam me completando e realizando os sonhos que eu tinha sobre o que seria trabalhar arquitetura. Aí minha vida foi toda conduzindo para isso. Quando eu terminei os meus cursos, eu já estava trabalhando 100% dedicada ao Design de Interiores. Eu atuei na área, tive matérias publicadas na época e só depois as coisas foram mudando”.

Depois de algum tempo atuando como designer de interiores, por razões pessoais, que ela define como “questões de busca, de olhar o mercado e se identificar ou não com a maneira que ele atua”, a designer de consultora recalculou sua rota e resolveu se voltar mais ao design de produto. “Eu comecei a ir pros bastidores das lojas e fazer seleção de produtos que comporiam as linhas que são vendidas. Saí de uma área em que eu atendia o cliente para trabalhar em uma área que atende o profissional que atende o cliente. Nesse trabalho, nos bastidores das lojas eu comecei a conhecer muitas fábricas e indústrias até receber um convite de uma indústria para fazer parte de projeto muito grande envolvendo o Sergio Rodrigues. Eles acreditavam que eu poderia ser a pessoa que ajudaria eles a desenvolver produtos dentro da fábrica. Assim começou o trabalho que eu faço hoje”, relembra ela.

Desde a criação de um produto, passando pela interpretação de como ele atuará no ambiente, até planejar uma linha de produtos com proposta de estilo de vida para identificação com o público, Mila usa o design para ampliar seu conceito de ferramenta para estratégia de negócios: “Minha função é conhecer toda a corrente do mercado e conhecer a parte da psicologia do envolvimento com o cliente para saber como atender esse cliente num projeto. Quando você manuseia a planta de um cliente, as possibilidades e a diversidade que você tem que pensar para oferecer as soluções que vão de encontro aos sonhos e às necessidades de quem vai residir naquele espaço são muitas. Nos bastidores desse processo, eu penso nos produtos que serão selecionados para os clientes. Então, essa construção me jogou de volta no universo do desenho industrial”.

Hoje, o forte do trabalho de Mila é a coordenação de linhas de produtos. Para isso, ela precisa entender e conhecer muito bem a marca para qual presta consultoria e, a partir desse conhecimento, trabalhar as ideias que serão apresentadas: “Partindo de vários fatores, como os aspectos fortes da empresa e o que precisamos potencializar para posicioná-la nas linhas frente à concorrência, eu monto uma conceituação e um briefing que é usado pelos designers para criação. Eventualmente, eu crio. Mas eu dou preferência para os parceiros. Costumo falar que eu não perco uma boa ideia, mas eu não fico, como os designers, lapidando essas ideias. O meu trabalho de coordenação já é trabalhoso o suficiente. Então, quando a ideia brota, eu não a perco. Eu a uso para fazer um trabalho bacana e fazer acontecer. Mas ao mesmo tempo, se a ideia precisa ser esmiuçada, eu prefiro passá-la para um profissional que esteja empenhado em trabalhar essa ideia com um foco que eu não teria”.

Nesse formato em que trabalha hoje, Mila termina usando tudo o que aprendeu em seus dois cursos nas diferentes fases de cada projeto. “Quando eu estou pensando o desenvolvimento das linhas e coleções, quando estou discutindo sobre com os designers, eu tenho que ter muito conhecimento do processo construtivo, do design de produto, e a minha base acadêmica na FAAP é fundamental. Porém, quando eu tenho que planejar como a gente vai mostrar as linhas em um evento, em um editorial, na hora de apresentar para os lojistas como eles podem apresentar aquela linha de produtos dentro da loja dele, aí entra todo esse universo de design e equilíbrio de cores, proporção, volume, do entendimento de como encantar as pessoas com a nossa apresentação de coleção, como fazer essa ambientação pra que ela conte a história da coleção tá, no que ela foi baseada, os caminhos, os elementos fortes e os elementos bases. Isso tudo eu trago da base que a Panamericana me deu”, explica a consultora de design.

A escolha pelo curso da Panamericana, aliás, foi feita em função da reputação da escola. Mila conta que não queria perder tempo com cursos que pudessem não agregar e nem titubeou, foi direto em busca de uma instituição renomada e respeitada: “Eu amei fazer o curso na Panamericana. Foi um período de muito estímulo criativo. Eu comecei numa unidade na Conselheiro Brotero, que era uma unidade com visual industrial e estar cercada por aquela arquitetura e salas modernas já era algo que mexia com a gente. Na metade do curso eles abriram a unidade da Groelândia e a gente migrou para lá. Chegar naquele prédio ultramoderno, naquele ambiente muito ousado, aquilo era puro fomento. Fazia a gente sentir que realmente estávamos planejando e vendo a arte e todas as suas derivações de aplicações à nossa frente”.

Aprender com profissionais atualizados e atuantes no mercado também fez bastante diferença e foi marcante para Mila: “Os professores também foram fundamentais. Era uma rede de professores muito legais, que traziam um contexto atualizado por serem atuantes. Eles traziam muito das vivências profissionais deles pro nosso cotidiano. Eu lembro que na minha turma eram todos inexperientes, como eu, e professor com a experiência verdadeira trazia pra gente um contexto real de que o que estávamos fazendo era aplicável, e não apenas teoria. Eu sabia que aquilo seria muito útil para o meu trabalho”.

Até hoje, a designer utiliza muito do que aprendeu na Panamericana em seu dia a dia de trabalho. “Pra mim, é como se todos os meus saberes se fundissem no meu trabalho e tudo faz sentido junto. Na Panamericana, quando a gente começou a aprender a ler uma planta, entender sobre circulação, e toda essa parte que é técnica, eles nos estimularam a buscar o que tornava cada ambiente diferente. Então, isso de você estar atento a quem é o cliente e o que você quer contar sobre ele no projeto, é algo que eu aprendi na escola e que eu uso até hoje. Independentemente de ser um cliente final ou uma empresa. Porque na hora de montar um projeto eu estou pensando na história que eu quero contar, qual o impacto da entrada, qual é a sensação da pessoa no próximo ambiente, onde ela vai ficar mais tempo. Isso tudo é você tentando pensar no psicológico do outro e sentindo as necessidades dele. Todo os exercícios que eu tive na escola, que me ensinaram a olhar para o perfil psicológico, avaliar qual o tipo de expectativa dos clientes para conseguir traduzir isso pra outros materiais, me ajudam muito nesse processo”, conta Mila.

Para quem, como ela, quer construir uma carreira sólida no setor de Design de Mobiliário ou Interiores, Mila aconselha a fazer exatamente o que ela fez: buscar a construção de um caminho próprio que satisfaça os seus propósitos. “Acredito que, em primeiro lugar, é muito importante você fazer algo que realmente goste. O trabalho precisa ser um alimento para o espírito e para a alma. É isso que faz com que nossas buscas tenham um sentido maior do que apenas preencher uma atividade profissional. Eu penso também que, para trabalhar com design e criatividade, você precisa ter cabeça aberta. Não pode achar que regras são pra serem cumpridas à risca. Regras precisam ser criadas e respeitadas, mas também precisam ser questionadas e modificadas. E pesquisa é fundamental. Se tem algo que possa alimentar uma mente aberta é pesquisar, olhar, visitar museus, ter curiosidade, interesse em toda a forma de expressão que abra caminhos para sua mente tentar viajar. Esses são pontos muito importantes, porque você se mantém atualizado e mantém um exercício constante de questionamento, sobre porque isso é assim ou assado. Isso que te renova”, finaliza.

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