O coordenador e professor de Design Digital e Design de Animação e Games da Panamericana, Rodrigo Castanho, fez uma experiência usando Chat GPT e ferramentas de geração de imagens por Inteligência Artificial e nos contou sobre os resultados e conclusões que obteve com a experiência
Com o boom da Inteligência Artificial e os constantes avanços das novas tecnologias, muito já se discutiu sobre os impactos que a automação digital terá em diversos mercados, incluindo a Economia Criativa. Com certeza você já leu por aí – aqui nesse blog inclusive – que, pelo menos por enquanto, não há possibilidades de que a IA substitua a criatividade humana. Além de todas as plataformas de IA disponíveis no mundo ainda dependerem de nós seres humanos para existirem e funcionarem, nenhuma delas é capaz de executar tarefas que exigem habilidades e capacidades que as máquinas não possuem, como é a criatividade.
Robôs e outras tecnologias de inteligência artificial não têm a cognição, emoções e a capacidade de relacionamento dos humanos. Uma IA não experimenta dor física ou emocional, não sabe o que é felicidade, nem conhece os altos e baixos da vida, não tendo capacidade de acumular experiências e bagagem para inventar e inovar. Portanto, a preocupação principal para os profissionais criativos não deve ser com um suposto risco de serem substituídos, mas sim sobre como usar todas essas tecnologias de IA para desenvolver campos e possibilidades de trabalhos totalmente novos, agregando ainda mais valor às suas criações.
Para responder a essa questão e explicar, na prática, como usar a IA a favor da criatividade, o coordenador e professor de Design Digital e Design de Animação e Games da Panamericana, Rodrigo Castanho, fez uma experiência usando Chat GPT e ferramentas de geração de imagens por Inteligência Artificial e nos falou sobre os resultados e conclusões que obteve.
Primeiro, é importante esclarecer o que é cada uma das ferramentas que ele usou e como elas funcionam. O Chat GPT é uma inteligência artificial baseada na geração de texto. Com ele é possível criar, editar e adaptar textos a partir de comandos via prompt, num formato simples de conversa semelhante a qualquer aplicativo de troca de mensagens que utilizamos no dia-a-dia. “O que surpreende é o nível de detalhes dos textos e a linguagem parecida com o que um ser humano escreveria. Podemos pedir listas de ideias para um tema específico, um resumo com os principais tópicos de um texto longo ou a elaboração de um argumento mais complexo”, conta Rodrigo.
A plataforma pode ser usada na fase de geração das primeiras ideias, insights, argumentos, pautas, além de para criar prompts de comando para as outras ferramentas, como as de geração de imagens. “Podemos usar o Chat GPT principalmente para nos ajudar a melhorar ideias que já temos e concatenar essas ideias com coisas que aparecem nas pesquisas”, explica o professor.
Para essa experiência, Rodrigo imaginou um produto final específico: o pôster para um filme fictício. No Chat GPT ele criou um prompt pedindo para ele escrever o argumento ou a sinopse desse filme. “Para um resultado mais avançado é preciso fornecer o máximo de informações possível como referências de ambiente, características das personagens, tempo em que se passará a história e até um possível plot”, explica o professor.
EXEMPLO DE PROMPT:
“Escreva um argumento para um filme de terror que se passa em uma casa com arquitetura moderna isolada no meio de uma floresta no ano de 2050. A história precisa ter invasão alienígena e muito suspense.”
TEXTO CRIADO PELO CHAT GPT:
Título: Abdução Sombria: O Enigma da Casa Futura
Sinopse:
No ano de 2050, a humanidade vive em um mundo repleto de avanços tecnológicos e arquitetura futurista. Em uma floresta densa e isolada, ergue-se uma casa de design ultramoderno que chama a atenção de todos que passam por ali. O que parece ser uma obra-prima arquitetônica esconde um segredo sinistro que ficará marcado na história da humanidade.
Quando um grupo de amigos decide passar um final de semana na casa, buscando uma experiência única e uma pausa da agitação da vida moderna, eles não têm ideia do que os espera. Ao anoitecer, uma série de eventos inexplicáveis começa a acontecer. Dispositivos eletrônicos entram em pane, as janelas ficam turvas e mensagens cifradas aparecem nos espelhos.
O suspense aumenta à medida que os amigos percebem que estão sendo observados por seres estranhos e indescritíveis. Ruídos inexplicáveis ecoam pela casa, e à medida que a paranoia se instala, eles começam a desconfiar uns dos outros. Cada esquina esconde sombras que parecem ganhar vida própria, e a arquitetura inovadora da casa começa a se distorcer, como se estivesse reagindo a uma força alienígena invisível.
Enquanto a noite se arrasta, a invasão alienígena se torna inevitável. A casa se torna uma armadilha mortal, com corredores que se esticam e se encolhem, portas que levam a lugares inimagináveis e uma atmosfera carregada de tensão. Os amigos percebem que precisam se unir para sobreviver e desvendar o mistério por trás dessa invasão, que parece estar ligada a segredos do passado da humanidade e à busca dos alienígenas por algo que pode alterar o curso do universo.
Conforme o grupo luta para desvendar o enigma da casa e resistir à presença aterrorizante dos alienígenas, eles descobrem que a chave para sua sobrevivência pode estar em compreender a natureza da própria realidade. A linha entre o que é real e o que é ilusão se torna cada vez mais difusa, levando-os a questionar não apenas a invasão alienígena, mas também a própria essência da existência humana.
Abdução Sombria: O Enigma da Casa Futura é um mergulho angustiante no desconhecido, uma mistura arrepiante de tecnologia avançada, arquitetura surreal e presenças alienígenas enigmáticas. À medida que a noite avança, a luta pela sobrevivência se torna uma corrida contra o tempo para desvendar os segredos ocultos da casa e enfrentar uma verdade que desafiará tudo o que a humanidade pensou que sabia sobre o universo. Prepare-se para um filme de terror que fará sua mente questionar a realidade e deixará você à beira do seu assento até o último segundo.
Em seguida, Rodrigo pediu à ferramenta que fornecesse mais opções de nomes para o filme fictício e obteve o seguinte resultado:
Ecos do Desconhecido: Pesadelo na Casa Futurista
Invasão Além do Tempo: O Mistério da Floresta Isolada
Arquitetura do Medo: O Enigma Extraterrestre
Sussurros da Escuridão: O Segredo na Casa Alienígena
Pesadelo Futurista: A Ameaça da Noite Estrelada
Conexão Alienígena: O Horror na Residência do Amanhã
Casa do Caos: Invasão Alienígena no Ano 2050
Labirinto da Destruição: O Encontro Sombrio na Floresta Futurista
Sombras do Futuro: Sobrevivência na Casa Abandonada
Alienígenas da Meia-Noite: Enigma na Residência Holográfica
“Todo processo de ajustes na história e no título do filme pode seguir com mais comandos e referências até que o resultado seja satisfatório. Claro, é fundamental, que possamos enriquecer o texto com nossas próprias ideias pedindo para a IA reescreva adicionando detalhes específicos ou retirando outros desnecessários. O melhor resultado não será o primeiro desenvolvido pela ferramenta, mas sim aquele que ela alcançou misturando todas as suas ideias e comandos”, afirma.
Para finalizar a experiência, Rodrigo pediu para o próprio GPT escrever um prompt para outra ferramenta de IA geradora de imagens, digitando o seguinte comando: “Escreva um prompt, em inglês, para uma ferramenta de IA geradora de imagens, com o objetivo de criar uma imagem realista para um pôster desse filme”. Por se tratar de uma ‘conversa’, a ferramenta entende e considera tudo que foi gerado antes e não precisa de maiores informações para realizar os próximos comandos.
O resultado desse pedido foi o seguinte comando: “Generate a highly detailed and eerie scene for a movie poster depicting a modern, architecturally stunning house standing alone amidst a dense, alien-infested forest in the year 2050. The house should appear both inviting and foreboding, with its futuristic design contrasting against the natural surroundings. The night sky above should be filled with distant stars, creating an atmosphere of mystery. Emphasize the play of shadows and light to capture the suspenseful ambiance, while also incorporating subtle hints of extraterrestrial presence lurking in the background. The final image should convey the sense of isolation, impending danger, and the enigmatic nature of the film, ‘Dark Abduction: The Enigma of the Future House.'”. As imagens geradas a partir do comando são as que você vê ao longo desse texto.
Os geradores de imagem, como Adobe Firefly, Midjourney, DALL-E, Playground e Stable Difusion, entre outros, podem ser usados para gerar conceitos visuais e imagens a partir das ideias do usuário. “Cada uma das opções de ferramentas disponíveis irá oferecer diferentes soluções de customização e aperfeiçoamento do resultado, mas o mais importante é experimentar diferentes comandos até alcançar o resultado desejado e não se contentar apenas com a geração de uma imagem única para ser utilizada na peça final. É fundamental buscar meios que irão levar o artista a alcançar esse resultado de forma mais acelerada”, sugere Rodrigo.
Nessa fase de uso de geradores de imagem por IA, é interessante trabalhar na geração de diversas imagens em diferentes ferramentas, mudando o prompt e os direcionamentos técnicos para aperfeiçoar as ideias. Você pode inclusive voltar ao Chat GPT e usá-lo para melhorar os prompts de comando, alimentando-o com novas informações, ou alterar as ideias diretamente na ferramenta geradora de imagem. Algumas dessas ferramentas de criação de imagens já oferecem opções de personalização de resultados a partir de estilos e técnicas específicas. Diferentes resultados serão apresentados e é possível pedir novas opções ou variações de uma imagem específica.
“A ideia é que a imagem gerada por IA nunca seja a peça final, mas sirva de inspiração para a elaboração do trabalho ou faça parte de uma composição. Para se criar algo original e criativo é preciso utilizar suas próprias técnicas de criação e edição de imagem e assim alcançar uma versão única e inovadora de cada peça”, afirma Rodrigo.
E por falar em edição de imagens, a Adobe, lançou em 2023 uma versão beta do que virá na próxima atualização do Photoshop. Nessa versão, já é possível experimentar a inteligência artificial do Firefly rodando dentro do aplicativo. O interessante é que ao solicitar uma edição ou criação de um novo elemento dentro de uma imagem, o Photoshop considera os aspectos técnicos da foto para compor o resultado. Luzes, cores, perspectiva, texturas e o contexto da imagem são respeitados para criar opções de composição. Para cada comando 3 imagens são geradas para escolhermos. Além disso, é possível ampliar o quadro da foto e o Photoshop irá gerar mais imagem para completar os espaços vazios.
“Isso muda completamente a forma como lidamos com esse tipo de ferramenta. Ao invés de se preocupar em criar prompts mais eficazes para a criação de uma imagem, o software entende o contexto de uma foto – luz, perspectiva, cores e estilos – para gerar outras imagens em uma espécie de ‘fotomontagem’ tecnicamente profissional. Ou seja, o artista continua na direção criativa gerando os comandos, enquanto a ferramenta apresenta possibilidades rápidas e resolve a parte técnica”, conta o professor.
É muito importante destacar que nenhum trabalho verdadeiramente criativo termina na solução da IA. Na maioria dos casos o designer precisa ajustar e melhorar os resultados entregues pelas ferramentas tecnológicas. Porém, a aceleração de processos que inteligência artificial proporciona pode levar a resultados diferentes e muito mais rápidos. Fazendo uso de tais ferramentas, o designer/artista pode alcançar resultados diferentes e acelerar seu processo, misturando suas próprias ideias com as referências geradas pela inteligência digital. Algumas composições que já estão na cabeça do artista levariam horas para serem concretizadas, mas em alguns segundos se tornam realidade e podem ser modificadas com um novo comando.
“Ainda estamos no meio dessa revolução e tudo ainda está se transformando rapidamente, mas o certo é que os artistas precisam estar atentos e entender a IA como uma ajuda e não como uma grande vilã. O diferencial humano sempre será destacado e, assim como ocorreu com a computação gráfica, essas tecnologias passarão a fazer parte do nosso trabalho cotidiano. As diferentes ferramentas de IA podem ser valiosas aliadas no processo criativo. Esses novos sistemas de criação colocam o profissional em uma nova posição de ‘maestro’ do seu processo, criando a partir de comandos e finalizando seus trabalhos com as suas próprias técnicas artísticas.”, finaliza Rodrigo.