Marcelo Weiss conta como o curso de ilustração da Panamericana o ajudou a transformar seu olhar e a construir um importante diferencial para sua bem sucedida carreira como fotógrafo publicitário
Marcelo Weiss começou a fotografar cedo, aos 11 anos, incentivado por seu avô, o industrial Mario Alfredo Weiss, que era também fotógrafo amador. Profundo conhecedor de fotografia analógica, processos e desenvolvimento, ele usou essa base de conhecimento para aprimorar e desenvolver suas próprias técnicas em fotografia digital, que o ajudaram a construir uma sólida carreira como fotógrafo de moda, publicidade e marketing para grandes empresas e inúmeras campanhas de grandes marcas como Coca-Cola, Jack Daniel’s, Concha Y Toro, Calvin Klein e Budweiser, entre outras.
“Dos 11 aos 18 anos, eu estava tentando entender onde estavam os meus talentos e descobrir para onde eu queria seguir. Nessa época, meu avô se tornou o meu tutor na fotografia. Eu era o neto mais velho e ele começou a me convidar para ir para dentro do laboratório. Ele tinha um laboratório de revelação em preto e branco em casa. Eu comecei a trabalhar ali com ele e achei aquilo mágico. Quando eu fiz 15 anos, como meu avô estava muito velhinho, ele me deu todo o equipamento dele. Então, muito cedo eu tinha um baita equipamento de foto e comecei a fotografar tudo o que eu podia, pra tudo que era lado”, relembra Marcelo.
Antes de decidir construir sua carreira profissional na área fotografia, Marcelo, optou por estudar ilustração na Escola Panamericana de Artes: “Aos 17 anos eu já tinha um conhecimento profundo de fotografia, mas ainda estava tentando me achar. A minha madrinha havia estudado na Panamericana e sempre falava da escola com encantamento. Eu sabia que lá havia um curso de fotografia, mas na época eu nem cogitei fazer essa escolha porque eu achei que iria aprender muita coisa que eu já sabia, que não me acrescentaria tanto. Eu tinha vontade de desenhar, de ser ilustrador, e optei pelo curso de ilustração que eu achei que acrescentaria mais ao meu repertório”.
A experiência no curso da Panamericana fez com que Marcelo tivesse a certeza de que a fotografia era de fato o seu caminho, e não a ilustração. Ainda assim, o fotógrafo afirma que concluir o curso de ilustração foi crucial para sua trajetória e que tudo o que aprendeu na escola foi fundamental para que ele desenvolvesse um olhar diferenciado para o seu trabalho como fotógrafo. “Na Panamericana eu descobri que não sou ilustrador. Eu até desenhava razoavelmente, mas depois de fazer o curso eu entendi que não tinha talento para aquilo. Porém, no final das contas, estar ali foi muito importante no meu caminho, porque eu estudei muito sobre luz e sombra e comecei a desenvolver uma cabeça muito mais voltada a desenhar as imagens com a luz”.
“A vida toda eu digo que o pintor tem uma vantagem covarde sobre fotógrafo. Em uma pintura, a luz faz o que o artista quer e na fotografia não, a luz faz o que ela quer. Então, o desafio do fotógrafo é domar a luz para que ela fique mais próxima daquilo que ele quer. Você precisa entender a vontade da luz para alcançar um bom resultado. E foi durante o curso na Panamericana que eu comecei a enxergar a luz de outra forma. Quando você estuda os grandes mestres da pintura, você entende uma série de aspectos muito úteis na fotografia. Sempre fui atraído pela forma e pela luz. Quando você observa o quadro Moça com Brinco de Pérola de Johannes Vermeer, por exemplo, a luz é fantástica. Só que aquela luz em diversos pontos não é possível na vida real. É uma luz natural, mas a mistura dela não é possível. Ainda assim, ali o pintor pôde fazer o que quis. E a ideia de conseguir chegar nesse resultado em uma foto me fascinava muito”, relembra Marcelo.
Mesmo já decidido a seguir sua carreira de fotógrafo, Marcelo aproveitou o curso de ilustração, decidido a absorver todos os ensinamentos da matéria para desenvolver uma visão mais artística da luz e da fotografia. “Hoje em dia, quando as pessoas fotografam, é comum jogar a luz pela frente, só. Aí, o que acontece é que você tem uma luz lavada, uma luz sem graça. Na pintura e na ilustração não é assim. Você tem toda a contraluz, você tem uma série de contrastes. É uma construção de luz fascinante que eu passei a usar a vida inteira depois da Panamericana. Eu sempre uso contraluz em todos os meus trabalhos para dar volume”.
Outra característica que Marcelo afirma ter desenvolvido durante o curso da Panamericana é a busca constante por desenvolvimento. “Umas das coisas que eu trouxe da Panamericana é a consciência de que você deve sempre procurar se superar. A técnica é algo em que você vai progredindo sempre, seja na ilustração, seja na fotografia. Então, nunca consigo me dar por satisfeito, estou constantemente criando coisas novas, técnicas diferentes. Um outro ponto que vale destacar é que eu acredito que, apesar de não ter me tornado um ilustrador profissional, eu me tornei um ilustrador na fotografia. Se você olhar minhas fotos, você vai ver que elas são ilustrações. Eu realmente gosto de fazer ilustrações fotográficas. Então, a falta de talento para desenhar, eu compensei usando a bagagem que obtive ali na fotografia”.
Aos 18 anos, ainda na época da fotografia analógica, Marcelo Weiss abriu seu primeiro estúdio de fotografia e começou a atender inúmeras agências como fotógrafo publicitário. Pouco tempo depois, além do estúdio, o fotógrafo abriu também sua própria agência e, posteriormente, passou a usar todo o seu conhecimento em fotografia analógica, processos e desenvolvimento para aprimorar e desenvolver suas próprias técnicas em fotografia digital, que despontava como novidade na época.
“O digital trouxe uma coisa maravilhosa que é a mistura desse conhecimento inicial de ilustração com a fotografia. Eu poderia tratar a imagem que eu quisesse, como eu quisesse. Eu passei a ter, então, a possibilidade de montar várias imagens em uma única e descobri, finalmente, que na verdade eu sempre fui um ilustrador. A partir daquele momento o computador me traria essa possibilidade de usar a ilustração de uma forma mais controlada, juntando pedaços de fotografia para montar a realidade que eu queria. Hoje, eu fechei a agência e migrei para fotografia artística. Se você olhar meu site, ele é voltado para foto-arte e eu terminei ano de 2022 com 10 exposições do meu trabalho”, conta o fotógrafo.
Uma das exposições, em cartaz no Museu da Imagem e do Som do Paraná, uniu a arte da fotografia do ponto de vista de duas gerações, com as mostras “Dignidade – As meninas de São Tomé e Príncipe”, de Marcelo Weiss, e “Brazilian Way of Life – Um visionário no interior do Brasil”, de Mario Alfredo Weiss, o avô de Marcelo, que o incentivou a se tornar fotógrafo. O fato de as obras estarem expostas no MIS-PR é bastante simbólico já que o museu possui relação com a família Weiss: o casarão foi inicialmente projetado como residência de Leopoldo Weiss, o bisavô de Marcelo.
“São duas exposições completamente diferentes, a minha e do meu avô. Mas por uma coincidência lá no Museu da Imagem e do Som do Paraná, elas acabaram sendo convidadas para entrarem em cartaz as duas exposições juntas. Meu avô faleceu há 45 anos e essa é a 2ª exposição em conjunto. É um material muito legal, o dele. É uma outra coisa, uma outra pegada, completamente diferente, mas como ele foi o meu tutor na fotografia e a casa projetada pelo Ernesto Guaita foi encomendada pelo meu bisavô, Leopoldo Inácio Vaz, tudo se conectou”.
Questionado sobre que conselho daria para quem, como aconteceu com ele, tem dúvidas sobre que caminho seguir profissionalmente, Marcelo aconselha a não ter medo de errar na escolha: “Eu tive uma excelente experiência e sugiro que as pessoas façam mais ou menos o que eu fiz. Escolha algo que tenha vontade de fazer, e não especificamente a coisa que você tenha talento pra fazer. Independentemente de onde aquilo vai te levar, quando você escolhe aquilo que você tem vontade, você abre seus horizontes. Principalmente hoje em dia, tempo em que as pessoas estão ficando cada vez mais multimídia. Tem gente que começa desenhando, daqui há pouco está produzindo vídeo, faz stop motion… O que eu quero dizer é que o mix de possibilidades hoje é fantástico. Antes você começava fotógrafo e se tornava fotógrafo para sempre. Agora não. Agora, a pessoa pode se dar ao luxo de mudarseguir caminhos muito mais interessantes. Então, eu diria que o principal é você fazer algo que gosta. Até porque na adolescência, mesmo no final da adolescência, a pessoa tem muito tempo pela frente e vai poder corrigir rumo quantas vezes quiser”.
“A gente nunca perde por aprender. A bagagem é algo que se acumula. ela pode te dar o grande diferencial da sua trajetória. Porque a criatividade – eu acho fantástica essa definição – é criar novas conexões com coisas já existentes. Então a pessoa que, como no meu caso, fez ilustração, foi para a fotografia e que agora vai para foto-ilustração, está o tempo todo criando conexões diferentes. Esse é o principal diferencial do meu trabalho. Então, eu acho que os jovens devem fazer aquilo que eles têm vontade, independente do que vai dar dinheiro e do mercado. O que quer que você escolha estudar, aquilo vai te ajudar a criar o seu repertório e vai fazer diferença em qualquer que seja o seu caminho”, finaliza Marcelo Weiss.