Ex-aluna da Panamericana fala sobre a transição de carreira: ‘Sonhos são feitos para serem seguidos’

Artista plástica, Renata Pelegrini deixou para trás uma carreira de 30 anos como educadora para investir em sua expressão por meio da pintura e começou seu caminho na Escola Panamericana de Arte e Design.

Antes de se tornar artista plástica reconhecida em todo o mundo, membro atuante do MoMA de Nova Iorque e parte do acervo do projeto Imago Mundi de Luciano Benetton na Itália, Renata Pelegrini atuou como educadora por trinta anos. A transição de uma carreia para outra, segundo ela, foi acontecendo de forma natural, já que desde 1995 desenvolvia trabalhos na área das artes. Porém foi apenas em 2010 que ela formou-se em Artes Plásticas pela Escola Panamericana de Arte e Design e de início ao percurso na nova profissão. Desde então participou de diversas exposições coletivas e duas individuais, a última em 2018 na Janaina Torres galeria.

Além de acreditar que as duas carreiras, de educadora e artista plástica, não são tão distantes uma da outra, Renata conta que a mudança aconteceu tranquilamente também por conta da escolha pela Panamericana para sua formação: “Houve quase sempre uma vontade de olhar para as artes plásticas enquanto eu ainda estava no meio da educação e a transição de carreiras foi muito favorecida pela flexibilidade da grade da escola. Eu consegui realmente fazer uma passagem suave, embora eu perceba que as duas profissões estejam inter-relacionadas. Pela maneira que os cursos são estruturados na escola, foi possível conciliar o aprendizado das artes sem abandonar totalmente a educação. O curso de formação com aulas duas vezes por semana me permitiu continuar trabalhando na carreira onde eu estava e ir ao poucos acrescentando algo à minha formação”.

Ao repertório adquirido no curso de formação em Artes Plásticas, Renata acrescentou ainda mais conhecimento fazendo outros cursos livres da Panamericana durante a transição de carreiras. “Além do curso de formação, eu ainda consegui encaixar na minha agenda cursos livres que agregaram mais conhecimento. Eu estudei História da Arte, História do Design e também História da Fotografia, e quando eu me formei eu tinha um repertório ainda mais completo, encorpado, adquirido de uma maneira que eu consegui conciliar com a minha vida”, explica ela.

Antes de se decidir pela carreira nas artes plásticas, a então educadora morou em Nova Iorque e em Milão e estudou caligrafia nas duas cidades. Foi na Europa que Renata se aproximou do mundo das artes e decidiu que queria investir naquele universo. “Eu estava muito perto de artistas que compartilhavam comigo um conteúdo que, para mim, era muito novo. Eu entendia de expressão, eu entendia de um conteúdo, mas eu ainda sentia necessidade de me apropriar daquela linguagem”, diz.

Renata faz questão de ressaltar a importância que o método de ensino da Panamericana, que estimula a criatividade a partir da prática, teve em sua trajetória como artista. “O que a Panamericana me proporcionou de melhor foi a prática, sem dúvida. Eu vinha com um ‘script’ de querer um conteúdo que me desse a questão técnica, o jargão, a teoria, e quando eu cheguei na escola era prática. Eu lembro que pensei: ‘nossa, já?’. Depois eu percebi que foi isso que me ajudou fortemente, porque meu plano foi cumprido: eu adquiri o conteúdo que eu esperava, mas de uma maneira que ele jorrou. Eu já tinha a vontade da expressão, e quando alguém te coloca diante de um ambiente favorável, aquilo simplesmente acontece. Ali eu encontrei conteúdos que eu queria expressar e nem sabia,  porque a prática veio como um caminho de início, e isso foi muito bom. Eu, inclusive, uso essas técnicas até hoje”.

Os processos vividos na escola ajudaram Renata a criar as ferramentas para se reinventar nesse momento de crise mundial. “Nesse momento complicado, que está difícil pra eu me expressar, difícil pra eu me sincronizar com as necessidades do mundo, eu percebi que eu já expressei muita coisa sobre suporte, sobre o mundo precário e a possibilidade das coisas acabarem. Eu já expressei tudo isso no momento em que a intensidade encontrou esse caminho, na época em que eu estava na escola. E eu acho que foi isso que aconteceu de início na Panamericana. Eu já comecei me expressando para depois formalizar a expressão. Foi no processo que eu vivi na escola que encontrei o tipo de expressão que queria carregar no meu trabalho, que é esse viés mais visceral, essa resposta rápida. Cheguei nisso com o processo da prática e estou formalizando isso agora. Isso veio das minhas vivências na Panamericana”.

Além das ferramentas e da possibilidade de encontrar sua própria forma de expressão autoral, a escola também abriu portas para Renata no mercado de trabalho. A artista conta que ainda quando era aluna teve oportunidade de participar de exposições e concursos dentro da escola que lhe renderam boas experiências e contatos. “Eu lembro que ainda no ambiente escolar eu tive uma primeira experiência de exposição coletiva que foi incrível, que me colocou em contato com outros artistas, com uma galeria… Eu vivi esse pequeno stress do mercado real ainda como estudante de artes. Isso meu trouxe alguns contatos e, voltando à questão da criatividade, como ao longo do curso os alunos eram expostos a situações de participação e criação reais, ali eu já comecei a traçar um caminho. Quando eu acabei o curso, as pessoas, por conta dessas experiências, já sabiam que eu pintava, e já de cara começaram a surgir convites para grupos, contatos com artistas e outras possibilidades de trabalho”.

Após se formar na Panamericana, Renata participou de exposições coletivas em instituições como FUNARTE_SP, Biblioteca Mario de Andrade em São Paulo, Bienal das Artes do Sesc Distrito Federal, MAC de Campinas, Museu de Arte de Ribeirão Preto e SECULT de Santos. Em 2017 se desligou definitivamente do papel de educadora e em 2018 esteve em residência artística no Centro de Investigação Artística Hangar Lisboa, em Portugal.

“A minha trajetória tem a ver com os espaços por onde eu passei, os lugares em que eu já vivi no mundo, e onde eu construí relações. Nesses locais foi mais fácil eu retornar para mostrar o meu trabalho. Eu sabia que eu iria assumir uma carreira nova com pontos muito favoráveis, mas que teria que batalhar por outros que eu desconhecia. As pessoas sempre somam. A caligrafia e minha bagagem como educadora não estão dissociadas do que eu faço hoje. As pessoas vão dizer: ‘mas eu venho de uma área nada a ver’. Não importa, é soma, repertório. Só que para mudar, é preciso estar disposta a aprender. Você está entrando num caminho novo então você vai ter que aprender”, conta Renata.

Questionada sobre o que diria para pessoas que têm vontade de iniciar um caminho no mundo das artes plásticas, a artista falou sobre a importância de perseguir os sonhos: “O importante para quem quer ingressar no mundo das artes é a entrega, o foco no que você tem para expressar. Porque, por mais que eu conheça do mercado ou desconheça-o, e por mais que estejamos diante de um novo panorama que não sabemos como será constituído o futuro, se eu não tiver esse trabalho interno de ir em frente com o que me toca, eu não vou conseguir corresponder nem a como era ou como será, e vou ficar esperando que alguém de fora me diga o que fazer. Sonhos são feitos para serem seguidos. Se tem uma coisa que eu aprendi na Panamericana é que artistas não podem passar vontade, têm colocar a mão na massa e realizar.É a união da prática e da expressão o caminho para te dar segurança”, finaliza Renata. 



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