A designer de interiores abandonou uma carreira bem sucedida na área administrativa para investir no seu sonho de trabalhar com design e arquitetura
Filha de uma arquiteta e de um professor de artes, Gabriela Andrade cresceu com forte aptidão criativa. Porém, a crença de que a arquitetura não era uma profissão que dava dinheiro, adquirida ao ver sua mãe precisar migrar para a área da educação, fez com que ela, apesar do gosto pela área, resolvesse investir em uma carreira diferente. “Minha primeira faculdade foi de Logística e Transportes na Fatec, depois eu cursei administração na FGV e ingressei numa área administrativa, comercial, a qual eu não gostava tanto assim. Desde cedo sempre fiquei dividida entre o que me falavam que dava dinheiro e o que eu gostava”, conta.
Sua trajetória profissional na área administrativa a levou a trabalhar na área de planejamento estratégico comercial na Ornare, uma empresa referência de alto padrão na indústria moveleira. Foi criando projetos para grandes construtoras e empresas relacionadas ao setor de Design de Interiores que Gabriela se deu conta de que trabalhar com arquitetura poderia, sim, ser rentável. “Eu comecei a ter um contato próximo com projetos de Design de Interiores, e com todo aquele universo que me encantava muito. Eu ficava do outro lado, na área administrativa, e comecei a me questionar com uma daquelas perguntas clássicas de RH: ‘Como você se vê daqui a cinco anos?’. E eu não me via fazendo planilhas. Para mim era sufocante pensar em continuar fazendo aquilo”.
Em meio ao turbilhão de dúvidas, a hoje designer de interiores mudou de empresa e foi trabalhar no grupo Unicasa da Dell Anno, ainda no setor de mobiliário. O escritório era localizado na República do Líbano, bem próximo à antiga unidade da Panamericana na Rua Groelândia: “Eu passava sempre na frente daquele prédio maravilhoso e acho até que escolhi a escola pela arquitetura dele. Sempre quis fazer cursos relacionados à minha paixão pela arte e pelo design e tinha clara na minha cabeça a ideia de que a Panamericana era uma escola referência no mercado. Naquela época, por volta de 2016 e 2017, eu estava em uma situação financeira um pouco melhor e decidi investir em um curso que eu realmente gostasse”.
A ideia inicial de Gabriela era cursar História da Arte, que era um curso mais curto. Mas ao chegar na escola e se deparar com uma promoção que oferecia o curso de História da Arte gratuitamente para quem cursasse Artes Visuais, Artes Plásticas ou Design de Interiores, ela se viu diante da decisão da sua vida: “A minha ideia, quando fui na Panamericana, era fazer mais um curso para exercitar meu lado criativo, que eu não usava no meu trabalho. Escolhi fazer Design de Interiores e comecei com muito capricho ali, sempre com muita entrega, porque era algo que eu realmente gostava. Quando você faz uma coisa que é a sua alma, você percebe que é diferente demais”.
“Meus colegas de classe também eram pessoas que, como eu, vinham de outras profissões e estavam ali tentando se encontrar. Então eu me senti é acolhida em diversos âmbitos. Eram pessoas bem sucedidas em suas áreas, mas que mesmo assim queriam algo a mais que não encontravam. Tive três professores que me marcaram muito. A Beth Ferraz, o Jorge Pessoa e o Pedro, não me lembro o sobrenome. Eles me estimularam a pensar fora da caixa e a usar a criatividade. Eles ampliaram nosso olhares e foram uma inspiração para mim”, relembra a designer de interiores.
Foi durante o curso da Panamericana que Gabriela começou a pensar em de fato transformar o que seria um hobbie em profissão, e migrar definitivamente de carreira. “Mesmo estando cansada do meu trabalho e infeliz, a decisão de largar um cargo estável, que me dava boas condições financeiras, para migrar para a área que era minha paixão, era difícil. Comecei a pegar projetos de amigos, que me indicavam para outros amigos, e aplicando na prática o que estava aprendendo na escola percebi que a transição de carreira era algo possível”.
“Me lembro muito bem da Beth, que foi minha última professora, nos falando em aula que nós teríamos duas opções: trabalhar em escritórios, ganhar experiência, ou seguir os nossos sonhos na raça, descobrindo e vivenciando nossas própria experiências e desafios. Eu, que já tinha uma pequena vivência, lidando com projetistas e arquitetos na Dell Anno e Ornare, optei pela segunda opção. Apesar da minha pequena experiência prévia, quando você vive na prática, no seu escritório, é totalmente diferente. No final, o que me ajudou mais das minhas experiências anteriores foi o embasamento administrativo.”, conta.
Quando decidiu então que iria de fato investir na ideia de abrir seu próprio escritório, Gabriela fez um plano de negócio, juntou dinheiro para se preparar e deu início à sua bem sucedida trajetória em sua nova carreira: “Fiquei uns sete ou oito meses trabalhando em casa, sem abrir um escritório físico, pegando projetos pequenos por indicação. Eu não tinha grandes investimentos, mas também não tinha dívidas. Então, não tinha nada que bloqueasse meus planos. Claro que nem tudo são flores, durante esse período tive altos e baixos, além de muitas inseguranças, já que minha experiência profissional era em outra área, não nessa”.
A expertise em estratégia comercial ajudou Gabriela a ter uma boa visão dos empreendimentos que seriam construídos na região de Alphaville, onde abriu seu escritório. Ela fez todo um estudo de mercado e investiu na possibilidade de fazer os empreendimentos certos se tornarem seus clientes: “Quando você tem muita intensidade, muita força de vontade de querer fazer acontecer, o universo colabora. Eu brinco que é preciso ter muita força de vontade, mesmo, porque não é fácil. Mas foi assim que eu aluguei minha primeira salinha, fui atrás de parceiros e comecei a realizar meus sonhos. Eu tenho as primeiras fotos aqui do escritório, eu com a chavezinha sentada no chão com pão de queijo, pensando ‘o que eu vou fazer?’”.
Hoje, Gabriela está indo para o quinto ano de seu escritório próprio e está muito feliz com os resultados que alcançou e a trajetória que conostruiu. “Entre altos e baixos fui enfrentando todos os desafios e aprendendo na prática. Ganhei muita experiência. Foi uma mudança de chave fundamental na minha vida, um ato de coragem e de amor próprio. A Panamericana foi fundamental nesse processo. Quando eu me matriculei, eu não tinha certeza que seria realmente uma designer de interiores, mas eu sabia que o meu coração não estava naquele ramo profissional. Foi como colocar os pezinhos na água, no raso, para ver como é que é. A partir daí criei mais confiança e me joguei. Conforme eu fui aprendendo a projetar, eu fui reafirmando a minha paixão”, afirma ela.
“O método da escola tem total influência na forma como crio até hoje. Uma coisa que eu aprendi ali foi que muito do da sua criatividade vem primeiro no papel, e depois você vai para o software. Acredito que esse estímulo à criatividade é o meu diferencial hoje no mercado. Os clientes que me permitem trazer essa ousadia de criação nos projetos são meus cases de maior sucesso. E esse incentivo criativo eu trago da Panamericana. É ele que faz toda a diferença, tanto para eu me encantar com a profissão, quanto ter mais força de vontade”, revela Gabriela.
Questionada sobre que conselho daria para quem está passando pela situação de insegurança e transição de carreira que ela passou, Gabriela destaca a importância da coragem e da persistência. “Nós só temos essa vida aqui, né? Então, trabalhar com o que a gente ama de fato é muito importante. É um ato de coragem. Eu mentiria se dissesse que foi fácil, mas quando fazendo o que amamos, é muito difícil nos arrependermos. Graças à persistência e à coragem, minha paixão, o que faz meu coração bater mais forte, é também minha fonte de renda hoje. Boa parte da nossa vida a gente passa trabalhando, então é muito triste quando você trabalha com algo pelo que você não é apaixonada. Eu falo para os meus clientes quando vou fazer o orçamento que eu lido com sonhos, eu lido com a parte tangível e com o intangível. Quando vou apresentar um projeto e eu vejo um sorriso no rosto, um olhar emocionado, isso não tem preço, a satisfação é enorme”, finaliza ela.