A artista plástica ressignificou sua trajetória profissional quando decidiu desenvolver seu talento nato para as artes estudando na Panamericana. Desde então, deu início a uma carreira de sucesso que inclui mais de 40 exposições, entre coletivas e individuais
Artista plástica formada pela Panamericana, Cintia Abravanel começou sua longa trajetória na economia criativa atuando no universo do teatro. Durante seus mais de 30 anos como produtora teatral – trabalho pelo qual recebeu inúmeras premiações – foi diretora-presidente do Centro Cultural Grupo Silvio Santos e criadora do projeto Literatura no Teatro. Apenas em 2021, após o curso na escola, revelou-se ao mundo das artes, onde desenvolveu um estilo autêntico que transita entre neoplasticismo, surrealismo e construtivismo.
A relação de Cintia com as artes plásticas e com a Panamericana, porém, já existia muito antes da decisão de fazer a transição de carreira: “Eu acho que a artista plástica já nasceu comigo. E a Panamericana tem um espaço especial na história da minha vida desde que eu era criança. Tenho um carinho muito grande pela escola. Minha mãe cursou a primeira turma de Decoração da Panamericana e eu amava as canetinhas de nanquim que ela usava. Eu gostava de ajudá-la a desenhar as plantas. Passei a vida inteira desenhando. O desenho sempre fez parte da minha vida. Inclusive, mesmo trabalhando no teatro, eu vivia desenhando em post-its cadernos, bloquinhos… Era um perigo. Se eu estivesse distraída, desenhava e rabiscava até em contratos e documentos importantes”, conta ela.
Percebendo a forte relação de Cintia com o desenho e as artes, dois amigos próximos que trabalhavam com ela a matricularam no curso de Artes Plásticas da Panamericana de surpresa, para incentivá-la a desenvolver seu talento. “Um amigo meu, o professor Wilton Ormundo, e a minha chefe na época me chamaram para almoçar na Panamericana e me surpreenderam. ‘Está aqui sua matrícula, você começa no dia tal’, eles disseram. Aceitei na hora. Trabalhava no teatro durante o dia e à noite ia para a aula”, relembra.
O gosto por criar instalações que exploram a força do ferro e a transparência dos acrílicos coloridos – com o intuito de provocar no observador a descoberta de suas próprias emoções – nasceu no curso da Panamericana. “Para o trabalho de conclusão do curso, eu criei, instalação Sou Eu, que eu revisito e faz parte das minhas exposições até hoje. Fiz a primeira versão com EVA, para testar. Eu apresentei o projeto e para a exposição de final eu recriei o mesmo projeto usando o acrílico translúcido. Usei luz, algo que eu trouxe do teatro, para tingir a parede. Era uma obra interativa, para as pessoas olharem com uma lanterninha e brincarem com a projeção”, conta a artista plástica.
A partir daí, Cintia não parou mais. Foram mais de 40 exposições, entre individuais e coletivas, além de Feiras, como ABIMAD e Future Print, e da cenografia da novela A Infância de Romeu e Julieta. Atualmente, três de suas instalações estão expostas no Terminal Rodoviário Tietê, em São Paulo, até 9 de março. A ideia por trás da exposição “Uma Jornada Pessoal” é provocar reflexões sobre as fases que o ser humano percorre durante sua jornada. As instalações Raiar, Poente e Sou Eu retratam a caminhada pessoal da artista. Com 4,60 metros de altura, Raiar representa o nascer do Sol, quando há a transição da noite para o dia. Já a obra Poente, de 4,50 x 4,50 metros, simboliza a passagem do dia para o entardecer e o encontrar da noite. Por fim, a instalação Sou Eu, originalmente criada no final do curso da Panamericana, simboliza as diferentes facetas da personalidade de uma pessoa.
A artista se expressa por meio da intuição, permitindo que suas emoções sejam refletidas em seus trabalhos. O resultado são obras altamente coloridas. “A instalação Sou Eu representa meus diferentes lados. Representa o que eu sou e você não vê, aquilo que realmente eu tenho dentro da minha personalidade, e aquilo que eu coloco pra vida e as pessoas enxergam. A obra é o meu cartão de visitas e eu, inclusive, permito que as pessoas entrem na instalação para tirar fotos”, diz Cintia.
Cintia conta que costuma revisitar seus trabalhos da época em que estudava na Panamericana e os usa de base para novas criações: “Experimentei muitas técnicas durante o curso e trago as experiências e o foco no autoral até hoje para o meu trabalho. Revisito minha pasta da escola sempre e, vira e mexe, trabalhos da época viram novas obras. Foi muito interessante entender as paletas de cores, poder desenvolver a criação de cores novas e aprender a usar luz e sombra, entre outras coisas. Me descobri como artista na Panamericana. Descobri as técnicas que não gostava e as que gostava. Experimentando consegui entender qual era a minha praia. A Panamericana está no meu DNA. Com certeza”.
Grande parte de suas obras combinam formas geométricas, curvas e cores, com linhas que variam de delicadas a marcantes. Hoje, a artista plástica tem em seu estúdio dentro de casa uma máquina de corte e forno para trabalhar com acrílico e pretende criar uma coleção de peças menores e mais acessíveis. Porém, a artista plástica não gosta de se limitar a uma única linguagem ou técnica e usa sua arte em diferentes aplicações.
“Impossível minha cabeça parar de pensar e de criar. Então eu estou sempre reinventando coisas, sempre vendo que dá para aproveitar. Criei com meus filhos a TJama, marca de roupas em que uso algumas obras para desenvolver estampas. Quero fazer curso de serralheria e solda para aprender a trabalhar com metal. Também pretendo estudar design de joias e design de mobiliário, para transformar meus trabalhos em acrílico em peças acessíveis. Acredito que é possível transformar arte em design sem que ela deixe de ser arte. Essa democratização é importante. A arte não pode ser elitista, ela está na vida de todos, a todo momento. Fico honrada em levar a minhas obras para espaços com grande circulação de pessoas e em poder transformá-la em objetos acessíveis”, revela.
Para os aspirantes a artistas plásticos, que estão em dúvida sobre dar o primeiro passo, Cintia aconselha: “Nunca desista de você. Acredite que você é capaz. Você só vai descobrir essa capacidade se você tentar. Vai soar como clichê eu dizer para acreditar nos teus sonhos, mas não é. Sonho é uma vontade de realizar alguma coisa, então acredite que você é capaz de fazer isso. Não adianta só ficar na vontade como eu fiz no passado. Eu desenhei a vida inteira e precisei que um amigo olhasse para os meus desenhos e entendesse que dali poderia sair uma coisa legal. Foi só quando eu saí da escola e comecei a produzir muito que eu entendi: ‘Gente, eu sou uma artista plástica formada, isso é a minha profissão’. Hoje, todas as possibilidades que eu encontro no caminho só existem porque eu passei a acreditar na minha capacidade de realizar”, finaliza.