Saiba mais sobre o mercado de HQ no Brasil

Entenda a evolução do mercado dos quadrinhos no Brasil e as transformações e tendências de crescimento geradas pela era digital.

Gênero literário que cresceu consideravelmente no Brasil durante os últimos anos, os quadrinhos surgiram em tiras de jornais nos Estados Unidos, na virada do século 19 para o 20. No Brasil, o pioneiro foi Angelo Agostini, cartunista italiano radicado no país, que criou As Aventuras de Nhô Quim em 1869. Porém, foi apenas a partir da década de 60 que as publicações e os personagens brasileiros se proliferaram, graças a artistas como Perotti, Ziraldo, Primaggio e Maurício de Sousa. 

Nos anos 80 os grandes jornais brasileiros passaram a publicar trabalhos de autores nacionais em suas tirinhas e no final do século 20 a Editora Abril já editava por aqui as principais revistas de heróis da Marvel, da DC Comics e da Image, além dos tradicionais personagens de Walt Disney. Assim, o Brasil começou o século 21 já com o mercado de HQ em expansão. Nos últimos anos, o setor cresceu ainda mais com o surgimento de editoras especializadas, a criação de leis de incentivo, o aparecimento de grandes eventos voltados para a área e um público que se expandiu além dos pequenos nichos. 

Desde 2018, por exemplo, um dos eventos acadêmicos mais importantes do mundo, a Jornada Internacional de Histórias em Quadrinhos, deixou de ser bienal no Brasil e se tornou anual, ajudando os profissionais a entenderem melhor os elementos peculiares ao cenário nacional e aquecendo a indústria dos quadrinhos no país.

Um mercado que antigamente era dominado por publicações impressas tem se transformado gradualmente. Além de ter sido abraçado pelo cinema e pelo universo dos games – com adaptações não apenas das gigantes internacionais, como a Marvel e a DC Comics, mas também nacionais, com adaptações de “Turma da Mônica”, por exemplo -, a produção de revistinhas se aprimorou com o sucesso das graphic novels e a forma de consumo se adaptou à transformação digital.

Hoje em dia é possível baixar publicações em computadores, celulares e tablets através de plataformas como o Social Comics e o ComiXology. Sucesso absoluto na indústria americana, as publicações digitais também vem ganhando espaço no Brasil, a julgar pelo crescimento constante de sites e plataformas dedicadas à sua publicação.

Além do maior alcance, a transformação digital também resultou em uma maior liberdade criativa para os quadrinistas, facilitando o contato com os editores, nacionais e internacionais, e com o público. Muitos profissionais optam por fazer uso de sites de financiamento coletivo, em que os leitores contribuem mensalmente com valores que escolhem para que o artista continue publicando seus trabalhos.

Nos últimos tempos, cresceu também a visibilidade dos quadrinhos brasileiros no exterior. A boa qualidade, diversidade e riqueza dos desenhos de artistas nacionais vêm chamando atenção em mercados tradicionais do mundo todo e nossos quadrinistas têm conquistado prêmios e espaço no exterior. O sucesso de trabalhos como os de João Pinheiro e Sirlene Barbosa, Marcello Quintanilha e Marcelo D’Salete ajuda a impulsionar o mercado no país e a superar a ideia que os relaciona exclusivamente ao público infantil. 

A exportação de obras nacionais do gênero tem apoio da Fundação Biblioteca Nacional desde 2012. Um edital específico da FBN para editoras estrangeiras interessadas em publicar histórias em quadrinhos de brasileiros já levou o trabalho de brasileiros a 14 editoras de nove países.

Ao jornal da USP, o professor Waldomiro Vergueiro, da ECA, afirmou que cenário brasileiro de quadrinhos atual se encontra em um dos melhores momentos em termos de produção, não apenas por conta das leis de incentivo, mas também em razão dos prêmios que agora incluem o gênero e, principalmente, dos sistemas de financiamento coletivo, que têm estimulado a publicação autônoma. “Acredito que o crescente interesse da população gera certa conscientização do governo. Os professores estão adotando cada vez mais os quadrinhos nos seus materiais de aula e o cinema continua fazendo grandes adaptações das histórias. Isso tudo me faz crer que a tendência é melhorar, pelo menos em curto prazo”, explicou ele.

Resumindo, as histórias em quadrinhos podem ser convertidas em modelos de negócio de várias vertentes, seja no efervescente mercado editorial interno, com editoras e selos de maior ou menor porte; no mercado editorial internacional, que se interessa cada vez mais por profissionais brasileiros; no mercado digital; ou no âmbito do licenciamento, onde existe sempre a possibilidade de venda de direitos para a produção de material relacionado a animações, filmes e games.

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