Se pensarmos em design como o conjunto de atividades voltadas à criação e a produção de comunicação visual e objetos, sua história se mistura com a história da arte. Desde as pinturas rupestres e inscrições em argila, pedras e tijolos, do uso de materiais rústicos para criação de esculturas, dos abrigos fabricados com fibras vegetais e dos monumentos de pedras colossais, feitos pelo homem até 30.000 anos atrás, passando pela arquitetura das pirâmides, pinturas que imitavam os movimentos dos corpos, esculturas em ouro, móveis com formas rígidas e uso de linhas geométricas pelos egípcios na Antiguidade, tudo faz parte da evolução das técnicas e da estética que influenciaram diretamente a história do design e até mesmo a história da humanidade.
Porém a história do design, como processo, ou ciência, é relativamente recente. A concretização de uma ideia em forma de projetos ou modelos, mediante a construção e configuração que resulte em um produto passível de produção em série nasceu junto com a Revolução Industrial, na década de 1760. Foi exatamente o surgimento de tecnologias inovadoras usadas para aumentar os processos de produção e manufatura que passou a ser desenvolvido em um ritmo sem precedentes na época que favoreceu o surgimento do design moderno, como hoje o conhecemos.
O método da litografia, técnica de impressão que envolvia pintar seu projeto em uma pedra ou superfície de metal e transferi-lo para uma folha de papel criado, durante a Revolução Industrial, foi um dos primeiros na história a permitir criações semelhantes às do que hoje conhecemos como design gráfico. Foi naquele momento da história, em que a produção em massa e a mecanização do trabalho para produção em grande escala ganhavam cada vez mais espaço, que começaram a nascer movimentos com apelo pela revalorização da produção artesanal, principalmente em mobiliários e na indústria têxtil, para contrastar com os efeitos da utilização de máquinas.
Cerca de um século depois, entre 1880 a 1917, o movimento inglês Arts and Crafts, que defendia uma arte “feita pelo povo e para o povo”, ligou-se ao revolucionário movimento Art Nouveau, que se espalhou por toda a Europa. A revalorização do trabalho manual e do sentido da beleza unida à recuperação do valor estético dos objetos produzidos para uso cotidiano, como grandes lamparinas francesas, artigos de vidros e estampas arabescas ou ligadas à natureza se transformariam nos precursores que conhecemos como design.
Em 1903, a criação da agência Digite Wiener Werkstätte da Áustria, também conhecida como Oficina de Viena – uma cooperativa produtiva de artistas visuais, incluindo pintores, arquitetos e os primeiros designers gráficos da história -, moldou a indústria e desencadeou uma tendência caracterizada pelo modernismo, geometria e cubismo. Tal tendência serviu como base para os estilos viriam depois, como a estética revolucionária das formas mais simplistas, linhas retas e um visual minimalista da produção da Bauhaus – escola de arte criada pelo arquiteto Walter Gropius, na Alemanha, em 1919, época em que a forma ainda era definida pela função e não uma prioridade.
Pouco depois disso, mais especificamente em 1922, que o termo “design gráfico” passou a existir. Criado pelo designer de livros William Addison Dwiggins, o termo apareceu em seu ensaio “Novos tipos de impressão exigem um novo design” e foi usado para explicar a maneira como ele organizou e administrou os recursos visuais em seu trabalho. Na mesma época, o design gráfico que conhecemos hoje começou a se firmar como profissão, por conta dos avanços da tecnologia e da ênfase na comunicação visual. Foi quando surgiu a ideia do uso da criação artística para desempenhar uma função específica, como divulgação de produtos e serviços.
Simultaneamente, logo após a Primeira Guerra Mundial, na Paris dos anos 1920, aconteceu o surgimento de uma nova forma de arte, que influenciou inúmeras disciplinas criativas, incluindo o design, as artes visuais, a moda e a arquitetura: a Art Déco. O movimento com estética inspirada no movimento cubista, evocava modernidade, glamour, elegância e funcionalidade. A partir daí a ascensão do design começou de fato tomar forma.
Com a crise de 1929, a maior da história dos Estados Unidos, cresceu a necessidade de se estimular o consumo. Para despertar o desejo dos consumidores pelos produtos, as empresas passaram a agregar valor a eles por meio da estética e, consequentemente, o design deixou de ser só forma que acompanhava a função, se tornando prioridade e ganhando um peso comercial ainda maior nessa época. Em 1947, Paul Rand, um dos designers gráficos mais influentes do século 21, escreveu seu primeiro livro, “Thought On Design”, no qual afirmava que uma boa peça de arte comercial precisava ser bela e estética.
Já nos anos 50 e 60, as transformações causadas pela Guerra Fria e pelo surgimento de diferentes lutas sociais abriram espaço para o nascimento de um movimento cujo o objetivo era expor a massificação da cultura popular capitalista e cortar os laços com arte produzida no início do século XX, para se transformar em uma espécie de denúncia artística: a Pop Art. Usando cores saturadas, tipografias irregulares e estética psicodélica, artistas como Andy Warhol se tornaram referência para a criação de objetos de decoração que faziam uso de ilustração, cores vivas e a reprodução de figuras famosas como Marilyn Monroe e Elvis Presley.
O final da década de 60 foi marcado por mudanças históricas que influenciaram diretamente a história do design e seus rumos estéticos. A funcionalidade passou a dividir espaço com a estética e os produtos de diferentes setores industriais começaram a ganhar maior valor artístico. Ao mesmo tempo, os artistas começaram a se rebelar contra os valores do modernismo e surgiu o movimento que conhecemos como pós-modernismo, que pregava a liberdade de mistura de diferentes estilos e mídias e o uso de novas técnicas expressionistas nada convencionais.
Durante as décadas de 80 e 90, a interatividade, os avanços das tecnologias, as possibilidades de digitalização e questões ecológicas ganharam destaque, e objetos com identidade, que comunicavam algo e passavam mensagens começaram a ser valorizados. Foi também nesta época que a introdução de ferramentas digitais e os rápidos avanços em hardware e software digital revolucionaram a forma como se criava o design gráfico.
De lá para cá, influenciado pelo nascimento da internet, o design ganhou ainda mais força em todo o mundo e o valor estético passou a ser agregado a todos os objetos, até mesmo em aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos, que hoje aliam sua funcionalidade ao aspecto visual. O crescente interesse social pelo design também aumentou a busca por informações, fazendo crescer a reinvenção de obras e criações antigas. Paralelamente, o design passou inclusive a ser usado para a construção de estratégias, por meio do Design Thinking. O a capacidade de seu pensar o design de maneira estratégica assumiu papel de protagonista no mundo nos últimos anos, tornando-se capaz de transformar o mundo.
Resumindo, se analisarmos a história do design, que caminha junto com a história da humanidade, é possível ter uma clara visão sobre o processo evolutivo do homem e sobre a maneira como pensamento de design reflete o seu mecanismo criativo para a resolução de problemas. Hoje, o design tem reconhecidamente um grande valor comercial, e a concepção de que existe apenas para deixar o produto “mais bonito” caiu por terra há muito tempo. O design, como hoje o conhecemos, está em absolutamente todo o lugar e passou a ter amplo significado, sendo passível de diferentes interpretações.