Panamericana celebra seus 60 anos com exposição inédita das obras de Enrique Lipszyc

Parte do vasto trabalho artístico do fundador da Escola apresentado pela primeira vez ao público, com curadoria de Alex Lipszyc e Massimo Picchi

Fundada em 7 de abril de 1963, a Panamericana acaba de completar 60 anos de história como referência na valorização e estímulo da profissionalização da criatividade brasileira. Para comemorar o aniversário, a escola realiza, a partir de 20 de junho, uma exposição inédita e muito especial. Intitulada O Criador e Sua Obra, a mostra exibe pela primeira vez telas e desenhos produzidos entre 2012 e 2020 por Enrique Lipszyc, idealizador e fundador da instituição.

Visionário e disruptivo, Lipszyc se interessou pelo mundo das artes logo cedo, ainda jovem em Buenos Aires, e se encantou com a ideia de criar um formato de Escola-Ateliê, onde grandes professores e profissionais da área ensinassem na prática suas técnicas e habilidades a jovens estudantes interessados em aprender arte e design de maneira dinâmica. À frente de seu tempo, antes mesmo de inaugurar sua própria escola, já no Brasil, para onde se mudou nos anos 60, Enrique lançou 12 fascículos sobre artistas famosos para que os interessados em arte pudessem aprender sobre o assunto.

Além de fundador da escola e professor dedicado, Enrique era também um desenhista voraz e pintor cauteloso que, apesar de nunca ter tornado públicos suas obras, nunca deixou de produzi-las e pintou até seu último dia de vida. Para celebrar seu legado e a fundação da escola que ele tanto amava, a exposição joga luz sobre um recorte temático predominante no trabalho de Lipszyc – o mito de Adão e Eva. Sob uma ótica que extrapola os muros erguidos pelo viés da religião, o artista expressou o caráter primordial desses dois personagens, seus comportamentos que o diferenciavam dos outros animais e que definiram permanentemente a existência humana.

Com curadoria de Massimo Picchi e Alex Lipszyc, O Criador e Sua Obra reúne um recorte temporal do trabalho visceral e expressionista de Enrique. Com criatividade para explorar novos materiais de diferentes formas, o artista usava na pintura, elementos como terra, cola, cera, além de telas reaproveitadas. “É possível enxergar esses materiais que conversam com a temática proposta. Para uma cena mais leve, Enrique utilizava tonalidades mais calmas, traços mais sutis. Já nas cenas de conflito, tons mais vibrantes e texturas mais marcantes são observadas”, explica Alex.

Ao estudarem todo o acervo do artista para a curadoria da mostra, Massimo e Alex observaram que os últimos anos mostravam um artista mais consciente de seu ofício e seu estilo. “De 2012 até 2020, há uma consciência palpável, um domínio pleno de sua identidade como artista”, enfatiza Picchi. Para o ex-diretor da Panamericana, a identidade de Enrique Lipszyc como artista plástico está totalmente definida em suas obras: “A parte artística de Enrique era a mais verdadeira, a mais passional, a mais integrada com a técnica e o conteúdo. Ele tinha uma paixão pelo homem, pela mulher, desenvolvendo esse tema de uma maneira muito pessoal, muito genuína. O seu estilo muito apurado, expressionista, ganhava vida com as técnicas que ele escolhia: a óleo, acrílico, mistas, variando-as nas telas e nos desenhos, esses sendo muito importantes tanto no campo da expressividade como em projetos para trabalhos maiores”.

A mostra, que também apresenta a intimidade do dia a dia de Enrique Lipszyc – com uma sala que reproduz o seu ateliê, com as ferramentas, mobiliário original e outros elementos que compunham o seu ambiente de trabalho -, poderá ser visitada até 18 de agosto, de segunda a sexta das 9h às 20h e aos sábados das 9h às 12h, exceto feriados. “Nessa busca permanente pelo entendimento do mito de Adão e Eva, meu pai concluiu que mesmo passados milhares de anos, evoluções tecnológicas e intelectuais, continuamos sendo os mesmos seres de sempre: buscamos nos reconhecer no outro, não somos felizes em nossa individualidade, mas sim no coletivo, sempre estamos em conflito por questões banais e que sem o diálogo não solucionamos nossos problemas”, finaliza Alex.

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